Síntese do último dia I Fórum Nacional da Cultura Taurina:


“Está na moda dizer-se que agora se toureia melhor”


Terminou ontem, dia 16 de Abril, o I Fórum Nacional da Cultura Taurina que teve início a 12 de Março, decorrendo desde há cinco sábados nas instalações da Praça de Toiros do Campo Pequeno, e cuja organização coube ao octogenário Grupo Tauromáquico ‘Sector 1’.


O último dia desta iniciativa abriu com uma mesa redonda de muito interesse e interação com a assistência, tendo por tema “Em que sentido está a evoluir o Toureio a Cavalo em Portugal?”. A exposição do mesmo foi posta pelo Dr. Paulo Pereira como moderador, e que em breves pontos traçou uma evolução no toureio a cavalo, quer pela forma como é praticado, quer como se veio alterando ao longo do tempo o traje de tourear, por exemplo.




Apresentados alguns tópicos, coube ao cavaleiro João Salgueiro ‘abrir praça’, começando por caracterizar as diferenças entre o toureio de antigamente e o toureio actual, tendo por base o tipo de toiro que também é diferente: “Hoje o toiro pode ser mais bonito mas com menos mobilidade”. 

Contudo, acrescentou o cavaleiro de Valada do Ribatejo, que para o tipo de toiro também contribuem os cavalos: “Tenho muita dificuldade em encontrar um cavalo bom hoje em dia (…) e não havendo cavalos com potencialidades, os cavaleiros também exigem toiros com menos potencialidades”.


Salgueiro considerou ainda que “existe uma necessidade de marketing e de se fazer passar a mensagem que os cavaleiros triunfam todos os dias (…) mas quando vemos numa temporada, actuar 10 vezes ou mais, as actuais figuras do toureio, sabemos que se torna repetitivo porque toureiam sempre da mesma maneira”. Pelo que remata “a verdade e a beleza do toureio a cavalo está em improvisar”.


Duarte Pinto levou o tema da mesa redonda a sério e iniciou dizendo que: “Está muito na moda dizer-se que houve evolução no toureio e que agora se toureia melhor” mas na sua opinião “Não vejo, nem nunca vi tourear tão bem a cavalo desde o despique entre o António Telles montando o Gabarito e o João Salgueiro montando o Herói”.


Também o jovem cavaleiro associou ao toureio actual o tipo de toiro mas frisou que outro factor condicionante para o toureio que hoje se pratica é o público que “aceita que se façam coisas na arena agora que antigamente não aceitava (…) e sendo o público quem manda, é ele que deve ser exigente e penalizar.”


Ao que Salgueiro rematou: “Deve tourear-se é o toiro e não o público, e quem não lidar bem com a opinião do público não pode ser toureiro”.



A conversa, muito assertiva e interessante, rumou então por um dos caminhos que actualmente mais absorve a opinião dos agentes da Festa e aficionados, o bem-estar animal, sendo questionado o uso de serretas, gamarras.


Nesse sentido, ambos os toureiros presentes consideraram que cada vez mais esse tipo de recurso deve cair em desuso, havendo uma preocupação maior com o cavalo de toureio, tendo João Salgueiro dado como exemplo que em provas de equitação de desporto, antes e depois das mesmas, é feito um grande controlo aos animais, inclusive ‘anti-doping’, acrescentando que “o mesmo poderia ser feito nas corridas de toiros”.


Face a esta opinião de João Salgueiro, surgiu da plateia a informação que está prevista, e a pensar numa melhor qualidade e bem-estar do cavalo de toureio, a presença de dois veterinários em praça, o que intervém como assessor do delegado técnico, e outro na eventualidade de haver algum animal a necessitar de cuidados médicos “Um cavalo pode no momento da corrida estar com febre e não se encontrar em condições para tourear”.


Duarte Pinto insistiu também na ideia de ser cada vez mais necessária uma maior preocupação relativamente ao bem-estar daquele que é o parceiro de trabalho dos cavaleiros pois “a necessidade do bem-estar animal é fundamental”.


Sobre o público rematou dizendo que este "é quem manda, e é ele que pode fazer a melhor selecção de quem anda na arena e de como se toureia”. Acrescentou ainda que, é também muito importante a apresentação em praça de um cavalo, pois: “Como pode alguém ir de frente e tão bem nas sortes se depois aparece na arena mal-arranjado?!”, ressalvando que: “A base do toureio a cavalo tem que ser uma boa equitação”.


Ultrapassado o tema do bem-estar animal, manteve-se o cavalo como tema de discussão mas tendo em conta a sua criação, considerando Salgueiro que: “Actualmente criam-se cavalos pela sua beleza, linhagem e não pela funcionalidade”, consequência do que ele assume ser as coudelarias dos “novos ricos que criam cavalos sem nunca antes terem montado”.


Novamente, o tema seguinte foi introduzido pela assistência, e muito pertinente – o rejoneio e a forma como os espanhóis têm o protagonismo no que ao toureio a cavalo diz respeito.


João Salgueiro afirmou que aí são “os nossos toureiros quem tem que assumir essa responsabilidade, arranjando cavalos que marquem a diferença” e comprometeu no assunto a imprensa taurina: “Se os toureiros não aguentam a pressão dos críticos então vão para casa mas o mal é que a imprensa também não diz a verdade”.


Para Duarte Pinto, “a Tauromaquia é o toiro”, pelo que não podemos comparar os cavaleiros portugueses com os rejoneadores espanhóis: “se o toiro é a essência da Festa, então este deveria ser igual para todos, como não é, não podemos comparar”.



Seguiu-se a esta mesa redonda uma brilhante e interessante conferência sobre “O impacto sócio-económico da Capeia Arraiana”, pela jovem veterinária Filipa Pucariço, que com os dados da sua tese de mestrado, evidenciou o papel dessa forma de Tauromaquia Popular na vida e na economia de uma região como é a beira interior. Como conclusões deste trabalho, ressalva-se a importância da Capeia na identidade, tradição e herança cultural para a região do Sabugal; no quão determinante foi para o início de actividade ganadera no concelho; e no impacto económico que tem na região aquando a realização destes espectáculos. Um trabalho a ter em conta e que poderia ter aplicação na Tauromaquia Profissional.


Já a tarde estava a meio quando a última mesa redonda do Fórum teve início: “A Tauromaquia como inspiração das outras artes”. Para a moderar, o Dr. Elísio Summavielle, director do CCB, e como convidados Alexandre Pomar, crítico de arte, a Profª. Mª Alzira Seixo, especialista em literatura, e João Gil, músico.



Alexandre Pomar, filho do conceituado artista Júlio Pomar, traçou a relação da Tauromaquia com as Artes Plásticas, contextualizando-a historicamente e referindo os principais exemplos de obras e artistas que foram beber a sua inspiração à tauromaquia, de Goya a Picasso, e na arte contemporânea.


À Profª. Mª Alzira Seixo coube relacionar a Festa dos Toiros com a literatura portuguesa mas também em obras da literatura universal, em escritores de nacionalidades onde a Festa Taurina nem tem expressão, evidenciando assim o papel e a importância desta arte como embaixadora cultural. Mais considerou a distinta convidada, que a Festa Brava é a preservação e a homenagem ao animal, o toiro de Lide, e que só a ignorância produz reacções negativas e decreta opiniões sem nexo baseadas o preconceito e na ignorância. Uma verdadeira delícia de ‘aula’, a que a Profª Mª Alzira levou ao Fórum e aos respectivos presentes, a quem deixou cativados com a sua leitura de excertos e poemas dedicados à Tauromaquia.


O músico João Gil começou por afirmar sentir-se ‘finalmente livre’ para poder assumir sem risco de preconceitos a paixão que tem pela Tauromaquia. Também ele considerou que com a riqueza da Festa dos Toiros é fácil sair um acorde musical, principalmente tendo em conta a emoção que vem do toiro. Lamentou que o ser ‘anti’ tourada seja feito, hipocritamente, como “lavagem de consciência, pelo que se eu não gosto, então sou boa pessoa”, considerando ainda muito básico "o argumentário dos anti-taurinos que é quase como um apedrejamento público”.


Depois de mais de um mês, terminou assim em grande o I Fórum Nacional da Cultura Taurina. Um fórum inovador que contou com personalidades de dentro e fora da Festa, e onde se debateram temáticas tão diversas como o bem-estar animal, a comunicação da tauromaquia no sec. XXI, a evolução presente e futura do toiro, do toureio a cavalo e da pega, além dos cominhos para revitalizar o toureio a pé, impactos económicos da tauromaquia, investigação sobre o toiro de lide entre muitos outros, que resultaram num verdadeiro espaço de pensamento aprofundado sobre esta expressão cultural e artística.


Todos os participantes fizeram questão de ‘reclamarem’ próximas edições para breve.

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