Crónica: CAMPO PEQUENO - 30 de Junho de 2011


                                           
       Por: ANTÓNIO MANUEL DE MORAES
A vã glória não é uma coisa que surja espontaneamente através das manifestações dos aficionados na praça. Fabrica-se, inventa-se e ensaia-se, até que cai no ridículo, dando direito a risos que não são de alegria, mas de completa reprovação, porque o respeitável não gosta de ser intrujado, aplaude e apoia quando deve fazê-lo e não quando os intervenientes activos na Festa lhes apetece sair em ombros, mesmo que fora da praça não haja vivalma para os vitoriar. Então são metidos à pressa na furgoneta de serviço para desaparecerem rapidamente. Foi isso que sucedeu nesta noite cálida da primeira praça portuguesa. Inventaram-se voltas ao ruedo para justificar triunfos que não tinham sentido, talvez na tentativa de fazer esquecer êxitos recentes de outros. Não é com mordidelas nos toiros, que consideramos uma falta de respeito por esses nobres seres, que se faz Arte. Não é com parejas de ocasião que se chega aos anjos, fomentadas à pressa por causa de um ou outro meritório triunfo. Que não se iludam os jovens cavaleiros, porque em primeiro lugar têm que respeitar o apelido de baptismo, depois terão de respeitar-se a si próprios e de seguida quem faz esforço para pagar as entradas, muitas vezes abdicando, se calhar, de uma melhor refeição em favor da Festa Brava. Não é também com actos desta natureza, talvez engendrados por orientadores técnicos menos escrupulosos, que essa Festa é defendida, muito pelo contrário. Para se construir uma carreira profissional séria e em progressão, tem de se beber doses de seriedade, de ética e de cultura. Os ídolos com pés de barro facilmente se destroem e a construção da imagem tem precisamente de começar pelos pés, a base de toda a sustentação para o resto da vida. Gostámos das actuações de Diego Ventura e de Francisco Palha nos primeiros toiros que lhes couberam. Até podemos justificar duas voltas à arena para o primeiro depois da primeira lide. Mas só para ele. Tudo o resto que sucedeu não passou de um embuste que até nos causou pena por ver tão promissores jovens a entrarem em terrenos que ainda não lhes pertencem. Para aqueles é tudo, nada há mais a dizer!
Pelo contrário, encontrámos nesta noite um Rui Salvador transformado para melhor, com saber estar e classe senhorial, obtendo ao fim da primeira lide um merecido êxito. Deu uma volta, só uma e assim respeitou toda a gente. É nobreza? Não temos dúvida! Baixou um pouco na segunda actuação, é verdade, mas não alinhou em palhaçadas, porque sabe que tal conduz ao nada e o nada é zero!
Por Santarém pegaram Luís Sepúlveda, com o toiro a ensarilhar, o forcado a toireá-lo e o par de braços a não permitir derrotes, construindo uma bela pega. António Imaginário deixou as ajudas nas tábuas e praticamente fez uma pega a solo, logo à primeira, e isto diz tudo acerca da classe e saber que demonstrou. A terceira pega foi mais um êxito, com o toiro a arrancar de muito longe e o forcado a fechar-se de forma esplenderosa, que lhe proporcionou duas voltas à praça, bem merecidas com o público a ovacioná-lo de pé.  Por èvora fizeram as pegas Bernardo Patinhas, que dedicou a sorte ao lesionado Diogo Sepúlveda, pegando o toiro ao primeiro intento de forma limpa, Manuel Rovisco, que aguentou bem toda a pujança animal, não saindo da cara, mas com fractura da perna esquerda, fez grande pega e António Alfacinha, que como nos vem habituando, pegou à primeira tentativa com grandes braços e maior convicção, sendo esta essencial. Grande êxito para esta forcadagem de primeira água. 

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